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39. O Vulto

Lenda baleada pela segunda-feira

Apossado de qualquer trocado para ir à locadora, sempre via um ou outro pôster da franquia Halloween. Ouvi toda a discografia da banda homônima - que por sinal emocionou demais na adolescência - antes de assistir aos filmes. E foi uma boa escolha. Terminei hoje à tarde os dois primeiros. No fundo, excluído o desejo homicida, eu sou o protagonista. Amo quando passo horas e horas a observar o mundo, o movimento das pessoas, o ritmo do que se leva e do que é levado. Em silêncio, diluir as inquietações pelo revés do olhar. As intensidades que colorem a mesmice da vida desembocando como cachoeira para dentro de mim. Desfocar o significado do que se vê. Apenas sentir. Ou, quem sabe, de canto a outro, imergir no que é desintegrado. No que está desintegrando. Ruínas de histórias. Um novo enredo que é levantado. O jeito com que ele apagou toda a subjetividade para, aguardando em hiatos, lançar o que restou pelas sombras. Beber da imortalidade. Anunciar a lucidez esbranquiçada das máscaras que somente um hospital é capaz de reter. Ou os ossos debaixo de uma lápide. Firmar nisso um ponto comum no caos. Na escuridão que o devora, um mecanismo de apoio e condução. É um domingo à noite e a lenda foi baleada pela segunda-feira.

Na sombra, um vulto sem voz ou compaixão,
Pela escuridão, sua presença se estende em vão.
Máscara fria esconde um olhar sombrio,
Caminha silente, destino sombrio.

Passos silentes em noite sinistra,
A alma fria, presença que persiste.
Sem remorso, sem fim, um ser sem rumo,
Horror personificado, em eterno resumo.

Um passado obscuro, um mistério sem luz,
Assombrando o presente, em sombras de cruz.
Corações gelam, almas enregelam,
O medo é seu legado, todos sabem.

Nos olhos sem emoção, o terror espreita,
Uma lenda do horror, em sua dança perfeita.
Em seu silêncio, o mal profundo se esconde,
Michael Myers, o horror que responde.

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