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Mostrando postagens de agosto, 2018

4. Alvorada

Uma compilação de tudo aquilo que já te escrevi. O roubo das outras cartas em sua casa chateou a você e a mim. Não por te aportar em culpa (sequer acredito nisso, “culpar”... Quem é que tem causa na forma como o mundo é ou, em tese, se propõe a ser? Os parâmetros de quem foram escolhidos em preterição aos de outrem?). Chateado porque não lembro com precisão do conteúdo das cartas que redigo, por isso não as consigo reproduzir com exatidão, elas são desagues do que sinto, rios que se apartam da nascente e procuram um oceano outro, maneira encontrada para não surtar ou não se afogar. E cada um de nós tem seus meios de se dissipar, de se tornar leve. Quando escrevo, fragmentos se materializam em linhas, pontes entre os abismos de dois – ou de muitos. Uni os rascunhos que precederam e os que não foram alocados, alguns encontrei no blog. E assim como a vida quando algo nos retira devolve com o apuro de um amanhecer, tudo é sempre e, silenciosamente, um novo dia... “Eu não aguento m

3. Ὠκεανός

O Twitter foi a primeira rede social que me registrei. Os pássaros desbravadores de uma terra sem lei. Discursar para todos e para ninguém, os cochichos de uma reclamação, de uma saudação. Ele foi referenciado em um episódio de CSI e, investigador, corri para anotar na apostila do curso de informática que fazia. [Ora, Ricardo, apostilar é justamente anotar em um canto. Quanta redundância!] Desde cedo, acostumado com os parcos recursos de morador suburbano em uma cidade subdesenvolvida, os domingos eram alegres porque esse curso, fruto de uma bolsa da escola, permitia o acesso à internet. Era uma novidade. Quando, hoje, perguntam sobre as habilidades com computação, agradeço mentalmente aos proprietários de lan houses e aos computadores dali que, pacientemente, propiciaram as cores pasteis e aberrantes dos primeiros quadros [ou os embustes clássicos e rebuscadamente caprichosos de um iniciante]. Erros audaciosos. Quando o centro de Teresina não era tão perigoso, próximo da beleza

2. Avis

Faz um tempo que não te escrevo. A vida anda tão estranha. Não sei se ela sempre foi assim ou é a gente que, com o tempo, começa a perceber certas nuances, pequenos detalhes que não estavam ali quando saímos ou pequenos detalhes que sumiram, sem que nos dessemos conta. O balançar de cabeça para alinhar as ideias – uma porrada de realidade depois de uns contornos nebulosos, linhas que tentam esconder entre cada borrar de limites uma transição, a ponte de uma música, um filete prateado de chuva – um anúncio dela. Embebedar com perspectivas dizimadas pelos cacos de algo que se quebrou há algumas eras. E há quantas estamos aqui? Ideias aéreas e meio mundo de pensamentos pássaros, debandando de um lugar a outro, sem rumo e sem nome, em grupamento ou sozinhos – já nem sabem quem são. Se é que o ser um dia se importou em se aprumar, uma identidade alevantada para dançar entre os carnavais de si. É encantador e, redobrado sobre a mesa, assustador assistir às coisas se estenderem daqui à a

1. Estranho

Ultrapassei a idade de pretensões tolas. Nem sei se idade seja o mensurador correto para qualquer coisa nessa vida. De acordo com a física, o tempo sequer existe – a única coisa que existe é a diferença entre dois pontos: distância. Todas as derivas são dela interpretações. Tracejar contornos, definir limites: satisfação dessa mania de controle, alicerces de um mundo incerto. Devires artistas. Fiz vinte e três esse ano e as projeções feitas para quando tivesse essa idade parecem tão distantes, tão pueris e tão ridículas. “Sair de casa, viver a vida, morar só, apossar-me de mim”. Faz tanto tempo que não sei o que é contar com o futuro, com algo certo, mesmo que por um sonho, mesmo que por um segundo, tudo é tão volátil. Na velocidade em que se mostra, qualquer filete de esperança logo se esvai – chuva desfeita no chão, talvez regue alguma semente já oca, uma daninha entre as rachaduras de alguma calçada. Aprendi cedo a não contar com ninguém. Ninguém está realmente interessado no q