Caminhar entre ruas, deambular pensamentos. Revoar de pássaro, roçar de folhas, vento sobre o chão. Gravidade cedida, licença poética. Épocas outras. Épocas idas. Eram vívidos sonhos. Giral debaixo da goiabeira, o afundar no lamaçal. Socorro silêncio, ninguém escutar. Porta dos fundos entreaberta, sombra silhueta a levantar. Aperto comprimindo o peito, era noite quando quis acordar. Mimosa pudica. De tanto sentir, resolveu se fechar. Rimar pelo fora, gracejo comum. Acantoar de ideias, debandar de lados. Rabiscos em língua estrangeira. Ouvi de tuas flores. Florem sem se dizer. Reconheci tuas cores. Descer de escadarias, o ponto lúcido em que perdido o olhar. Olhar que do resto destoa. Indicar incerto rumos de pés levados. De um lado, o amor. No outro, armadilha de amar. Em verdade, perspectiva de um affecto. Corpo é constância da luta, campo de forças. E ele tende a zero, se anular por extremos, mas o zero é sempre irreal, um impossível. Tender ao que falta, mover e ser movido. Um amigo perguntou o que era "não fazer de alguém uma cidade". Bem, depende da cidade. Assim como corpo, mundo de fluxos e afluxos gladiando por um espaço ou a falta dele. Tanta história no silêncio de cada rua, no barulho do portão que se fecha. Fazer de alguém uma cidade, insanidade de pares que se igualam na diferença um do outro. Não esquecer de colocar o nome de tudo o que pode ser dito, refeito e revisto a toda sorte de vezes e ainda sim desigual, assimétrico. Desenhos de épocas encravadas uma na outra, um retrato disforme e ao mesmo tempo querido, real. É a minha cidade. Eu sou essa cidade. O gosto de ter à distância. De alturas, alado. Ali, ao lado, nada dizer. Silêncio dos que se amam profundamente. Barcos atracados do outro lado do rio, ao longe, encontro deles. Filetes prateados tremeluzindo entre suas águas. Poeira alevantada quando, descida a ponte, adentrava em velha estrada carroçal. Ao longe, de rosto baixo, sob a luz de um lampião a óleo, ela se via assentada na garupa de uma bicicleta. À outra luz, o vazio de quem partiu. Ninguém estava ali.
Lenda baleada pela segunda-feira Apossado de qualquer trocado para ir à locadora, sempre via um ou outro pôster da franquia Halloween . Ouvi toda a discografia da banda homônima - que por sinal emocionou demais na adolescência - antes de assistir aos filmes. E foi uma boa escolha. Terminei hoje à tarde os dois primeiros. No fundo, excluído o desejo homicida, eu sou o protagonista. Amo quando passo horas e horas a observar o mundo, o movimento das pessoas, o ritmo do que se leva e do que é levado. Em silêncio, diluir as inquietações pelo revés do olhar. As intensidades que colorem a mesmice da vida desembocando como cachoeira para dentro de mim. Desfocar o significado do que se vê. Apenas sentir. Ou, quem sabe, de canto a outro, imergir no que é desintegrado. No que está desintegrando. Ruínas de histórias. Um novo enredo que é levantado. O jeito com que ele apagou toda a subjetividade para, aguardando em hiatos, lançar o que restou pelas sombras. Beber da imortalidade. Anunciar a lucide
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