Deleuze repreendia comentários. Ninguém quis dizer. Se disse. Tudo o que foi dito já está ali. Não é necessário se redobrar sobre uma linha, ou a falta dela, a fim de encontrar um significado. O significado é seu, a poesia é do poeta. Quando misturadas, já são outras entonações. A poesia diz sem precisar dizer, diz sem precisar ser justificada através da linguagem, costurada em outros termos. É completa porque enunciou pontes para estranhos de uma mesma língua, ligações entre lugares eternamente separados. Separados por serem diferidos, por serem outros e, ainda assim, encontrados um no caos do outro. Dito isto porque se amam certas coisas, mas dizer que se amou não é suficiente quando, de uma aleatoriedade, a alegria de encontrar bom tempo, bom trabalho, bom dia. Bom porque mesmo quando se fala do ruim, da dor, de solidão, de angústia, buracos da alma são preenchidos por pequenas lufadas de vento, que escapam e são transformados em presentes a todas as copas de árvores que, mesmo presas ao chão e em iguais angústias, felicitam o cálido vaivém. É vento piauense, um fascínio, uma raridade. O tempo é delírio. Com ele, a distância de um ponto a outro, de um momento a outro. As alegrias do começo, as dores do fim. As horas de ti, badalando a cada ruptura. O tempo sequer existe. O que existe é grão de agora. Tomando por uma luz, de uma luz, por luz nova. E luz recita trevas. Reconhecer o dia por noites sombrias atravessadas. Noites de um vazio ao derredor, assomar de uma memória ou um punhado delas. Espaços de quem partiu parecem maiores. Ruas sobrepostas em um desfiladeiro sem fim. Irresignação pelo que não se disse, pelo que não se pôde dizer, pelo que não se soube dizer. “E se”. A angústia goteja conhecido veneno. Areia em ampulheta, se esvai e se esvai… E quem dera que com pensamentos fosse igual e, de igual, se fossem. Não. Eles ficam. A cair, a cair e a levar. Levar a dor enquanto pedaço da alma partida, partida a fim de caber em si mais mundo, conter em si mais vida. Expansão do universo. Mundos caem para o tempo se redourar em outros mistérios. E mundos caem diariamente. E isso é maravilhoso, pois “não importa quantas vezes se atravesse um rio, assim como as águas que nele correm, você e ele, todas as vezes que se atravessarem, já serão outros”. É o encanto de crisálidas.
Lenda baleada pela segunda-feira Apossado de qualquer trocado para ir à locadora, sempre via um ou outro pôster da franquia Halloween . Ouvi toda a discografia da banda homônima - que por sinal emocionou demais na adolescência - antes de assistir aos filmes. E foi uma boa escolha. Terminei hoje à tarde os dois primeiros. No fundo, excluído o desejo homicida, eu sou o protagonista. Amo quando passo horas e horas a observar o mundo, o movimento das pessoas, o ritmo do que se leva e do que é levado. Em silêncio, diluir as inquietações pelo revés do olhar. As intensidades que colorem a mesmice da vida desembocando como cachoeira para dentro de mim. Desfocar o significado do que se vê. Apenas sentir. Ou, quem sabe, de canto a outro, imergir no que é desintegrado. No que está desintegrando. Ruínas de histórias. Um novo enredo que é levantado. O jeito com que ele apagou toda a subjetividade para, aguardando em hiatos, lançar o que restou pelas sombras. Beber da imortalidade. Anunciar a lucide
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