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15. Outeiro


Raízes são firmamentos de árvore ao chão e, por isso, justamente e o que eternamente as fixam. Clausura pela segurança. O mundo lógico é relido por dualidades, "sim" ou "não", "direita" ou "esquerda", "claro" ou "escuro". Nada aquém ou além, "uma coisa ou outra". Redução de tudo o que dali escapa por um controlamento de tudo o que não se pode conter. E tudo isso soa estranho e irreal. All this feels srange and untrue. Mundo esquecido do acondicionamento por lados, mas de potencialização da vida por perspectivas. O sol é movimento. Um olhar, um sentir. Unicidades atravessam espaços criados dentro de cada um. Lugares não descritos, desarrazoados, trilhados todos os dias e, ainda que aproximados de um nome, demandam e debandam por outros caminhos, requerem novas direções. Ilimitação de si porque se é infinito. E a humanidade teme tudo o que escapa, tudo o que não consegue capturar. Perseguição infindável a bruxas criadas por uma precisão temporária, por um "lado". Humanidade que teme a si. É mais fácil reter entre o "sim" e o "não" do que anuir com a infinitude da vida. Ela que impulsiona o espírito e faz de cada um único, perfeito. A vida é artista. Não erra, nem acerta. Ela apenas flui. Flui como rio. Corre por diferentes caminhos. Amontoa e bifurca por outros mil. Afina e engrandece, mais engrandece que afina, pois é expansiva, tudo pode e tudo é. Desemboca livre em um oceano, evapora, forma nuvens. Nuvens que desenham e se desenham em imaginação, em tudo o que é possível. Eu posso ser tudo e eu sou tudo. A tempestade que pressiona o ar e os céus com toda a sua força, rega tudo o que toca. Fertiliza. É intensa. De ares e alturas, balança a copa das árvores presas ao chão. Alegrar o dia por prece e benção. Perceber a vida enquanto perspectivas é perceber que tudo se faz de criação e destruição, quedas e elevações, oásis e desertos, assoberbamentos e faltas. Não por dualidades, mas por saber que entre o ir e o vir há o imensurável. Um universo dentro de cada um de nós. E ainda que nele escolhido um caminho, saber que sempre levará a outros. E se alegrar por isso. Saber que se carrega dentro do peito um infinito, que a prisão dentro dele é a mesma que liberta. Feliz por não se conter, por não ser contido, por ser tudo, por ser diferente. Paz de espírito. 

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