Você perguntou o porquê de não ter te atendido. Bem, meu celular vive no silencioso. Não gosto muito de falar à distância. Sou de todo antigo. O jeito clássico de levar a vida é mais tranquilo. Aparelhos eletrônicos já são pílulas de ansiedade, quando aliados a redes sociais são uma overdose de apreensão. Em casa, vontade de demora em banho. Tranquilidade para escrever. Enquanto vinha para cá, lia suas mensagens. Os fones alegram ao som de uma ópera fúnebre. Requiem. Orquestral maravilhoso. Ele recorda algo que vem de fora, uma força do fora. Geralmente estamos tão presos dentro de nós mesmos. Inominado que de tudo se apossa. Outras formas e cores. Capturas de um sentimento indizível. Capacidade de trazer consigo o infinito. Constelação do presente, chão que se desmonta dos pés. Espírito é levado a um outro lugar. Revoar de pássaros. Gosto por contradições, de conflitos. Nos desfalques de si, construção de preciosidades. Bem aventurados os que se tornam leves. Deles é o prazer de vento em carícia a olhos fechados. Perdido em uma reminiscência qualquer. Sorriso a iluminar o rosto, felicidade de se sentir vivo. E "eu sinto que eu tô viva, a cada banho de chuva que chega molhando meu corpo". A vida é um rio. Ele passa e atravessamos suas águas. E algo ultimamente lava o que havia de nodoso em mim... Diluindo a escuridão que adensava o peito como noite sem estrelas. Prece baixa de quem agradece pelos dias que amanhecem no peito. Um andarilho, uma superação a cada instante. Reconhecimento dos espaços que nos tornam sempre infinitos. E você é infinito. E é necessário trevas para que haja luz. Contorno nebuloso que a intensifica, a torna única. Durante anos desertos são atravessados até a chegada do paraíso. Desertos da alma, nela estão. Ainda que pareça um fardo, pelo caminho encontradas flores. Flores de anúncio. Alegria vindoura. Recanto de paz que se habita. Zona cinzentas afugentam e demarcam a travessia. Movimento de si em direção a todas as possibilidades. O repertório do místico é agraciado pela profecia. Conquistas se aportam pela costa como onda que quebra, mar a dizer, dias que se atravessam e são atravessados. Percebe? O longínquo liberta o corpo, necessidade de paz e silêncio. Ouvir o que há de mais profundo. Acalmar o ouvido com horas e horas de intervalo. Por um momento, silenciar o barulho do mundo em um pensamento que voa alto, voa de todo passarinho. Pelos céus a se perder. E é tão bom se perder em musicalidades. Brilho de constelações que arrevessam a tudo o que tocam e tangem, cores fantásticas do múltiplo. Com tudo o que acontece comigo sinto um grande labirinto dentro do peito. Nele apenas perdição, mas é curioso me encontrar. "Uma força do fora", ares outros, mais leves, mais puros...
Olhos de berlinde
De prosa, vento e mar
Vi em ti cantiga
Oceano a desaguar
Ares outros
De ti ser
Bendizer e abençoar
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