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18. Achados e perdidos


Um baile dos anos oitenta. De introdução, restrição à entrada. Sensação de "não deveria estar aqui". Algo soa metálico. Recostado em um canto, o som rediz algo, algo que preencha o vazio acumulado pelos anos. Sempre durmo em festas, comemorações, casamentos. Uma rede é um paraíso. Vida de "e se" ao invés de "e vamos". Angústia apossada do coração. Derradeira conciliação entre os próprios fantasmas. Intervalos de silêncio. Silêncio de si. Silêncio que de tão profundo tem, enfim, algo a dizer. Músicas de quando ainda se sonhava, de quando anda havia esperança. Dejavus. Pés não se firmam, "afundam na areia movediça dos próprios pensamentos". E há quanto tempo se está aqui, entre o ontem e o amanhã. Every move you make, every vow you break, every smile you fake, every claim you stake. I'll be missing you. Quatro e quinze. Busquei uma cadeira para aliviar o peso dos pés ou, talvez, da consciência. "Tu sumiu". Em momento da festa, névoa repentinamente assomou a volta. Recúo e "uma circulada". O vento nasce de pressões diferentes. Oscilações perturbam o que é discretamente dito. Bem aventurado o leão imperioso que és e a ti sempre retorna. Graograman. Raridades dos eclipses redizem o brilho de sóis. És muitos, és vários. Vidas em uma. Estender cada uma delas a um outro infinito. Reconhecimento de limites, degraus, escadas. Ao mesmo tempo, em cada uma dessas linhas, remarca todas as tuas intensidades. Em cair, compreender do chão; em levantar, movimento de ser o mundo e ser para a vida. Olhar de desvio. Fixa em ponto e desaparta nele uma perspectiva. Criação constante de tudo o que é possível, de tudo o que move. Universo flui pelos deságues da alma. Cultivos de um jeito estranho de ser. Livre para os voos de espírito. Espírito pássaro. Pronto para a qualquer segundo partir em um gracejo. Transição. Preciosidade. Ser todo em tudo. Dedicação. Sorriso faceiro luzia à distância. Farol dos perdidos. Encostamento de barcos que arvoram suas bandeiras. Desvio padrão de puro acabamento. Aprimoramento de próprios encantos. Gracejos sirênicos. Voz cálida devora pelo mar. Mar de ti, profundo e repleto de segredos. Continente de outros e de ninguém. A descoberto, a descobrir. Magnetismo de se perder e encontrar. São quase seis da manhã e ainda não sei bem por onde começar a dormir. O final da noite pensando. Pela janela, a lua solitária na despedida de um céu dela mesma. Olhos fixos no teto e, vagarosamente, recolhidos a fechar. Riso de encantamento. O mítico irradiado por oscilações. Desígnios do vento. Ora carícia no rosto, ora força de bater janelas. Encalços de si. Transitar entre alvoradas. Aurora renascida em olhos que brincam, escondem, hipnotizam. Invasão de mim. Era hora do sono, era hora de sonhar.

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