No imaginário adormecido, afetações não processadas emergem de um canto a outro. Elas são estendidas ao extremo de seus limites. O desenho é borrado para abranger o impossível. Lá, o irreal fascina o que foi barrado pelos filtros do cognoscível. O que é isso? Em boa parte do cotidiano, certos aspectos da vivência são escanteados para noutro momento serem interpretados e, a seu tempo, valorados pela memória. O descanso repousa o corpo, as fortalezas de proteção entram em manutenção. Para alevante, o que implica em movimento. Sonho ou pesadelo, é hora de acordar.
Atravessava um babaçual. O terreno entrecortado declinava rumo a um riacho amarelado. Pelo acinzentado da terra, não avistei vivalma. Senti, não sei o porquê, que caminhava em berço de cobras. A podridão anunciada pelo ar. É possível um sonho ter cheiro? Ao longe, ossos brancos roídos pelo tempo. Depois de acordar, reaver a lembrança, percebi que quem faltava ali era eu. Apófis, Meretseger…
Filetes de luz atravessam a porta.
Devo estar muito amorfo para ter assumido qualquer compromisso aqui. No fundo, eu sinto pena, sei lá. A piedade é gangorra de um só participante. Assentado de um lado, o outro sobe. Sem ninguém ali, você até tenta fingir que é possível brincar, e corre para fazer contrapeso… Até que se cansa. E se vai. E acho que estou criando coragem para ir. São necessárias pausas na vida. E essa, de mim, já perdura demais.
Comentários
Postar um comentário