O frio toca a pele por pequenos calafrios. Morcegos a vaguear entre as árvores, iluminados de quando em quando pela luz de poste aceso. O som de carros que trafegam à distância. Tudo está quieto. Eco de silêncios. Ainda é noite. E faz um tempo que é noite aqui dentro. Acho que estou deprimido de novo. E faz um tempo que deixei que isso fosse um impedimento. Apagar, pouco a pouco, qualquer traço de afetações, do riso ao toque, do medo ao cheiro de flor. Faz um tempo que me perdi. Não sei o que faço ou por que o faço. Há algo que se desprendeu daqui. Não falo de alguém, mas do que sou, do que era, fui ou almejei um dia ser. Um punhado de palavras que segurei e escorregaram entre os dedos, antes de irem com o vento, ou vieram dunas, ou foram ao chão e choveu. Era lama. Tem lama em meus sapatos e eles entram em casa. Só queria saber chorar, mas nem a isso me presto. Há algo de estranho na hora que passa pelo relógio e não me leva. Como os ponteiros que são levados, é a vida que leva. Acho que enfim sentei em um hipopótamo e, puxado pela gola, avistei os séculos atrovejados. "E se faço parte do desfile desses pássaros, o que é que eu faço agora além de cantar?".
Lenda baleada pela segunda-feira Apossado de qualquer trocado para ir à locadora, sempre via um ou outro pôster da franquia Halloween . Ouvi toda a discografia da banda homônima - que por sinal emocionou demais na adolescência - antes de assistir aos filmes. E foi uma boa escolha. Terminei hoje à tarde os dois primeiros. No fundo, excluído o desejo homicida, eu sou o protagonista. Amo quando passo horas e horas a observar o mundo, o movimento das pessoas, o ritmo do que se leva e do que é levado. Em silêncio, diluir as inquietações pelo revés do olhar. As intensidades que colorem a mesmice da vida desembocando como cachoeira para dentro de mim. Desfocar o significado do que se vê. Apenas sentir. Ou, quem sabe, de canto a outro, imergir no que é desintegrado. No que está desintegrando. Ruínas de histórias. Um novo enredo que é levantado. O jeito com que ele apagou toda a subjetividade para, aguardando em hiatos, lançar o que restou pelas sombras. Beber da imortalidade. Anunciar a lucide
Comentários
Postar um comentário