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39. O Vulto

Lenda baleada pela segunda-feira Apossado de qualquer trocado para ir à locadora, sempre via um ou outro pôster da franquia Halloween . Ouvi toda a discografia da banda homônima - que por sinal emocionou demais na adolescência - antes de assistir aos filmes. E foi uma boa escolha. Terminei hoje à tarde os dois primeiros. No fundo, excluído o desejo homicida, eu sou o protagonista. Amo quando passo horas e horas a observar o mundo, o movimento das pessoas, o ritmo do que se leva e do que é levado. Em silêncio, diluir as inquietações pelo revés do olhar. As intensidades que colorem a mesmice da vida desembocando como cachoeira para dentro de mim. Desfocar o significado do que se vê. Apenas sentir. Ou, quem sabe, de canto a outro, imergir no que é desintegrado. No que está desintegrando. Ruínas de histórias. Um novo enredo que é levantado. O jeito com que ele apagou toda a subjetividade para, aguardando em hiatos, lançar o que restou pelas sombras. Beber da imortalidade. Anunciar a lucide
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38. Blade Runner 2049 (2017)

"K" & "Joi" ("Key, enjoy...") Solidão, sentimento tão humano, Mas também presente em androide, K, personagem de Blade Runner 2049, Busca em si, o despertar do sentimento. O distanciamento é seu escudo, proteção, Parede invisível, que o mantém seguro, De um mundo frio, sem emoção, Que o trata como objeto, sem afago. K busca entender, sentir, A solidão humana em sua jornada, E, em busca de sua humanidade, Questiona-se sobre sua existência. Joi é seu guia, um brilho singular, Iluminando a jornada do androide, Mas sua busca o leva a lugares sombrios, Onde a verdade é escassa, desafiando-o. Encontrando conexões improváveis, Percebendo que a solidão é uma verdade, E que há sempre um caminho, complexo e improvável, Em um mundo futurista e sombrio. A personalidade esquizoide é sua armadura, Protegendo-o da dor e distanciando-o, Mas K descobre uma vida lá fora, uma aventura, E que há sentimentos a serem vividos, sem frio. Assim como K, a pessoa esquizoide, Busc

37. Passageiros (2016)

Jim consertando um robô na Avalon  É um mundo próprio, De silêncio e introspecção, Onde as emoções se escondem, E a conexão é uma ilusão. Não é falta de afeto, Nem desinteresse por viver, É a dificuldade de expressar, O que dentro dele há de ser. E assim o esquizoide segue, Num caminho solitário, Com medo de se expor, E de se sentir tão contrário. Um coração vazio, uma alma solitária, O esquizoide vagueia sem emoção, Nenhuma paixão, nenhum anseio, Sua mente é uma ilha de solidão. Sem afeto, nem simpatia, Seus sentimentos parecem desaparecer, Os outros veem frieza e indiferença, Mas dentro dele, há apenas um vazio sem fim. As emoções são um mistério, Uma estranha língua desconhecida, Ele se sente como um espectador, Assistindo ao mundo girar sem vida. No vazio do meu ser esquizoide, Sinto-me como um céu sem estrelas, Um mar sem ondas que se choque, E um universo sem galáxias. Nesta imensidão de solidão, Onde o silêncio ecoa sem fim, Eu me sinto como um pássaro sem canção, Que perdeu a v

36. Encouraçado

Rio Longá em Boqueirão (PI) Esse retrato ganhou um concurso de fotografias. Está em na agenda (2023) de uma instituição pública piauiense. As paisagens bucólicas são encantadoras. Quando o cansaço da bicicleta aperta, elas revigoram a passagem entre José de Freitas (PI) e Cabeceiras (PI). A vegetação esverdeada pela chuva, as nuvens esparsas que de quando em quando encobrem o sol. Os corpos d'água que se vê pelo caminho. É raridade, é pureza. Eu amo o interior do Piauí. Há uma semana comecei o meu segundo curso técnico. Quando ingressei no instituto federal, a afeição pela matemática projetou duas opções: informática ou contabilidade. Um pela manhã; o outro à tarde. Uma exata com começo, meio e resultado; a outra humana: inconstância, projeções e perspectivas. Foram quase cinco anos enfrentando o sol do meio-dia, ouvindo a seleção de melhores músicas do Roberto Carlos nas linhas 104 (Santa Maria Shopping) ou 201 (Santa Maria Centenário). Ouvir  Amada Amante na trilha sonora de Tapa

35. Constelação castanha

Caminhos da roça Deus está no mundo, o mundo está em Deus. Tudo o que existe, existe em Deus. Essência é potência. Deus é a potência absolutamente infinita.  Com Deus, tudo é permitido [Benedictus de Spinoza]. Ele é fundo imanente por meio do qual as estruturas transcendentes se estabelecem em graus, gradientes e gradações. Ele é o horizonte celeste que é atravessado por um por do sol. A folha em branco onde se escrevem as histórias. As diferentes pressões que, confrontadas ou decompostas, ressoam como o vento. Elas são o vento. Ventanias que, de súbito, memoram situações.  Não sei bem que dia era aquele. Dentro do ônibus, indo para a faculdade. Meio vazio, igual ao coração. Ziguezagueava pelas ruas mal iluminadas da Nova Brasília. No fone de ouvido, uma canção que entrecortava o peito. Planet Caravan [Black Sabbath]. Com vontade de me matar. Não de tristeza. Ninguém se mata de tristeza. As pessoas já estão mortas por dentro quando decidem antecipar a única certeza que se tem na vida.

34. Das alegrias que o tempo traz

Estação de trem abandonada em Boqueirão do Piauí (PI).  Quando vi os trilhos cerrados, entendi o que Espinoza disse sobre perceptos . Um conjunto de sensações que extrapolam aquele que sente, o que se percebe. Todas as ruas por onde caminhei, todas as esquinas em que, ao me virar, a alma se tornou outra. Cada rachadura contando uma história, cada fresta carcomida pelo tempo como um portal de outras vidas, as vidas que passaram por ali. Há tantos céus no silêncio dessa foto. O que é tangível transcendendo em um fundo infinito de imanência. A nuvem que é pelo vento levada. E é, em si, de sempre, o movimento do mundo. Conheci essa estação quando fui conhecer a cidade em que meu esposo nasceu e se criou. Gostei de lá. Como toda cidade interiorana daqui, ela é cheia de olhares tristonhos, de semblantes pesarosos que sonham com dias melhores, com oportunidades melhores. Ir a outro lugar. Acho que isso me encantou em José de Freitas (PI).  Parte materna é do Maranhão; a paterna, da Paraíba. E

33. Inconclusivo

Couroupita guianensis ("abricó-de-macaco") Os fones de ouvido acompanham o pedalar de bicicleta pela cidade. As ruas vazias. Ladeadas de casas e às vezes de mato. Os filetes de sol entre os galhos de unha-de-gato. Subiam pelos muros em busca de imensidão. O caminhão fazendo o chão vibrar, junto do vento quente que balançava quase tudo ao redor quando, de súbito, me ultrapassava. Começava a ficar escuro. Sobre o espelho d’água do riacho, os pássaros em um movimento rítmico. No céu, eles se separavam do grupo como que repelidos um do outro, se alinhavam no sobrevoo e, novamente juntos, coexistiam em uma dança hipnótica. O ciclo era reiniciado enquanto eles dominavam toda a extensão do espaço. Era gracioso ( flocking behavior ). Licença para adentrar em açude particular e, com o único anzol, pescar o que interessa ( fishing expedition ). Dragar um rio para que, do fundo dele, seja extraído tudo o que não interessa ( data dredging ). Ambas técnicas válidas, mas a interpretação d